Crítica: “Acasă, My Home”

A realizadora e pesquisadora Marta Reis, do Cineclube do Porto, analisa “Acasă, My Home“, filme do diretor Radu Ciorniciuc.
A família Enache mora numa ilha nos pântanos do lago Văcăreșt há vinte anos. Conforme o Parque Vacaresti se desenvolve, os Enache são expulsos do novo Parque Natural Urbano. Radu Ciorniciuc acompanhou esta família durante quatro anos, documentando os acontecimentos.
No lago as crianças podem correr livremente, nadar, brincar e conviver com os animais mas os Serviços Sociais acreditam que as suas necessidades não estão a ser devidamente atendidas e determinam ainda que as crianças devem frequentar a escola. O pai, Gică, não quer estar longe dos filhos e recusa-se a voltar a morar na cidade.
O Município instala a família num apartamento na cidade mas podemos ver que há um longo caminho a percorrer até à integração. Enquanto as crianças vão à escola, e tentam ajustar-se ao novo estilo de vida, os adultos vão ficando cada vez mais doentes mas a mãe não parece estar arrependida e quer ajudar os filhos a terem sucesso. Vali, o filho mais velho, consegue encontrar um trabalho adequado e tenta adaptar-se à vida na cidade entrando em conflito com a opinião do pai. No entanto, Gika não tem aliado em sua luta para ir morar em outro lugar. A saudade de casa prevalece e, com a mudança de Vali, a mãe não consegue sustentar os filhos.
O documentário observacional de Ciorniciuc é admirável. Ao acompanharmos a família Enache de tão perto no seu dia a dia, tornamos-nos muito compassivos. As imagens gravadas na natureza e no lago são muito idílicas mas, ao mesmo tempo, podemos testemunhar o trabalho duro a que estão sujeitos diariamente. Pessoas e animais habitam no mesmo espaço e é impossível não reconhecer as condições precárias e perigosas em que vivem no lago.
Sentimos pena das crianças por estarem a ser mantidas numa bolha de medo do mundo exterior a que acabam por ser, abruptamente, forçadas a adaptar-se. Não sabemos exatamente o que impulsionou Gika a ir morar para o lago mas, quando se instalam na cidade e os vizinhos os insultam, percebemos como ele terá sido discriminado e tem estado a tentar proteger os seus filhos do preconceito.
Viver na ignorância e na privação pode ter sido desvantajoso para a integração da família na sociedade, mas com o devido reconhecimento e profissionais mais empáticos de todas as áreas que trabalham juntos na área, espero que esta nova geração floresça!